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O Acontecimento

Tendo estreado em Portugal há precisamente quatro meses, é no seu rescaldo que O Acontecimento acaba por ganhar o seu mérito; algo típico nos filmes de M. Night Shyamalan, que melhoram a cada visionamento.

As vozes levantaram-se contra, como já habitual desde O Sexto Sentido e Sinais. Aliás, os filme de Shyamalan geram tudo, menos opiniões consensuais e The Happening (O Acontecimento, em Portugal) é um exemplo disso. O Acontecimento é um filme que assenta em boas premissas. O filme propriamente dito relata um estranho fenómeno que retira às pessoas a capacidade de auto preservação, resultando em suicídios em massa. Se inicialmente as suspeitas recaem sobre o terrorismo, cedo todos se apercebem que o "inimigo" tem afinal origens bem diferentes.

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M. Night Shyamalan apresentou um conceito divergente e ao mesmo tempo inteligente. A ideia apocalíptica de confronto entre o Homem e a Natureza e de carácter imprevisível surge precisamente num momento em que a população mundial encontra-se preocupada com os danos ambientais causados pela Humanidade e em que todos falam em grandiosos e graves acontecimentos para o Planeta Terra. Outra ideia que acaba por jogar com o espectador é o típico medo terrorista, no rescaldo do 11 de Setembro e que acaba por levar à consciência social.

Além disso, O Acontecimento apresenta um início bastante bom, levando a cena da "chuva" de operários no prédio em construção a poder ser considerada como uma das melhores deste ano. A primeira meia hora de filme é realmente uma mostra de um bom argumento e de uma boa realização. Para muitos, a partir daí, começa a tornar-se entediante, apesar disso. O porquê é simples. Os filmes de Shyamalan concentram-se numa narração lenta que, no entanto e a meu ver, é isso que os tornam especiais.

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Contudo, devo concordar que a dada altura, o filme revela as suas deficiências, não a nível de argumento, mas de realização. Existem cenas que eram absolutamente dispensáveis e que, por vezes, se tornam absolutamente ridículas. E isso é curioso, pois num argumento e numa história diferente seriam ideias tremendamente boas. Exemplo disso é a cena da casa-modelo, onde tudo é de plástico e falso ou as cenas que incluem as reacções esquizofrénicas da velha senhora que lhes oferece abrigo por uma noite. Cenas que incluídas na história de O Acontecimento se tornam inconvenientes e ridículas, mas que a título independemente formariam um bom novo argumento. Penso que isso revela o carácter imaginativo e o turbilhão de ideias que se formam constantemente na mente de M. Night Shyamalan, levando àquilo que a actual crítica tanto questiona no argumentista e realizador.

O ponto mais negativo no filme são as interpretações e isso torna-se lamentável. À partida o cabeça de cartaz Mark Wahlberg (nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário pela sua interpretação em The Departed) soaria a qualidade, mas não é isso que acaba por acontecer. Não sentimos a presença de Wahlberg praticamente ao longo de todo a história, nem um fio condutor em toda a sua interpretação e, no entanto, o papel de um cientista, parecia assentar perfeitamente no actor. Outro bom actor mas que acabou por não ter tempo de revelar o seu desempenho foi John Leguizamo, pelo seu desaparecimento precoce da tela. No limite surge Zooey Deschanel que se torna numa interpretação absolutamente irritante, devido à sua expressão desproporcional e fraco dramatismo.

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O Acontecimento é uma boa história, assente em boas premissas, mas que contudo lhe faltou uma série de coisas, que acabaram por se tornar em pontas soltas. No entanto, não é isso que tira a genialidade ao argumento.

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