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A Libertação de Nancy

As decisões das distribuidoras portuguesas são, por vezes (se não a maioria), difíceis de engolir para um qualquer cinéfilo mais atento. Sob uma famigerada temática algo mais negra e perturbante que o habitual, a Zon Lusomundo decide remeter Donwloading Nancy, do realizador novato Johan Renck, directamente para DVD.



O filme que em português recebeu o título A Libertação de Nancy é um verdadeiro "murro no estômago", que pode ser confundido com uma total imprudência por parte do realizador. Centrado numa única personagem com um passado problemático, o filme aborda temáticas como a rotina do casamento, o sado-masoquismo ou a auto-mutilação.

Apesar de o título original, Downloading Nancy, poder indiciar isso, este filme é muito mais do que um mero aviso aos perigos da Internet. Aqui repensa-se a vida e a morte, numa trama extremamente densa e complexa. Nancy sente a vida como que está preso no sítio errado e procura a saída. A saída, para ela, encontra-se em cada corte infligido a si própria, na falta de oxigénio, na tortura física, na morte. Tudo é melhor que a dor interior, que a falta de sentido da vida e do seu eu interior.

A dor da personagem principal cria uma interessante metáfora em favor da própria vida. Apesar de poder constar o contrário, Nancy acaba por ser a personagem mais viva e honesta de toda a trama e talvez quem deseja mais a vida. O seu marido acaba por viver uma vida que na realidade não existe, enquanto que Louis vive preso ao passado. Enquanto que estes dois se prendem a algo fictício, é Nancy que se revela uma pessoa extremamente humana que, na verdade, procura sobreviver.



Na verdade quem mais se destaca é Maria Bello, numa prestação profunda que exigiu muito de si enquanto actriz. É o seu desempenho que eleva o filme a um patamar mais superior do que realmente é. Pena que a actriz participe apenas em filmes independentes menos populares que não lhe garantem os merecidos créditos.

O excelente trabalho de fotografia de Christopher Doyle dá também outro significado à narrativa. O cinematógrafo que foi responsável pelo trabalho de fotografia em Paranoid Park (2007) ou do recente The Limits of Control (2009), cria uma paleta de cores depressivas, com uma iluminação propositadamente monótona, ao ponto de quase conseguir inflingir no espectador, a mesma dor da protagonista.



A Libertação de Nancy é o drama de uma mulher à beira do abismo que garante momentos doentios, de profunda inquietação e que nos deixa completamente desgastados. É um murro no estômago profundo, um ensaio bizarro e estranho que só deverá ser visto por pessoas menos sensíveis.

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