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O Lago Perfeito

O terror que se publicita ao longo de Eden Lake, mais que visual, é sobretudo psicológico. O filme assenta todo numa base coerente, realista e lógica, levando o espectador a temer mais que uma entidade abstracta, como é usual nos filmes do género.



E o interessante é que no filme não existem heróis nem vilões. A dada altura, acabamos por compreender as acções de ambas as facções e apesar de não as desculparmos, percebemos porque as fazem. Em Eden Lake, não heroísmo, há sobretudo um instinto selvagem de sobrevivência, que desde logo os primeiros minutos do filme vem sido inteligentemente despertado.

O jogo de sobrevivência que o novato James Watkins cria é competente, levando a uma noção claustrofóbica, com violência brutal e crua. O filme torna-se bastante gore, mas não gratuitamente (apesar de usar cenas cliché do género), acabando por revelar uma dimensão pedagógica imensa. Além de assistirmos à evolução da narrativa e das personagens, desde os primeiros comentários que passam na rádio, passando pela noção da professora com vocação, a mulher cobarde e a sobrevivente lutadora, indo até à convicção orgulhosa e amoral de um jovem líder.



Kelly Reilly tem uma excelente estreia no género horror movie, revelando uma capacidade de adaptação bastante positiva e uma enorme competência a nível de desempenho. Michael Fassbender, que de início não encontra o seu espaço, mas finalmente consegue revelar a degradação psicológica por que passam as personagens do filme.

Contudo, é o elenco mais jovem que merece grande parte dos louros, principalmente Jack O'Connell que nos oferece uma visão distinta, mas convergente, da vítima e do predador. E é sobretudo o olhar do jovem que causa ao espectador uma sensação sufocante, que nos apoquenta logo desde o início, que mais do que apenas uma vítima dos actos passados, revela-se um ser calculista e vingativo, que faz-nos temer as gerações mais jovens.



Geração Youtube, frutos de uma educação inconsistente, negligente e irresponsável por parte dos próprios pais que se justificam com um "são apenas crianças", Eden Lake conduz-nos a uma perturbante reflexão sobre os valores que transmitimos aos nossos descendentes. E tal como acontece muitas vezes com as personagens, o que passa para nós enquanto espectadores, é a mesma sensação enojada, próxima do vómito, ao perceber a impunidade com que muitas gerações jovens acabam por triunfar. E aquele olhar calculista de um jovem, por detrás de uns Ray Ban Aviators.

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