Harvey Milk, mais que activista pelos direitos gay, foi uma personalidade fascinante que, infelizmente, sucumbiu como tantos outros que tentaram ser diferentes. O meu nome é Harvey Milk e estou aqui para recrutar-vos. Começava assim os seus discursos e como era possível reagir a uma militância e activismo tão grande, se não com um afirmação positiva e directa? Homossexual assumido, Harvey Milk conseguiu singrar onde poucos chegaram. O argumento de Dustin Lance Black é exímio no perscrutar contínuo da vida pessoal e política do personagem que largou um emprego enfadonho, para se dedicar a uma via mais livre e focada nos prazeres pessoais, como a fotografia. Mas rapidamente, Harvey Milk se tornou um ícone da política, em São Francisco, na década de 70.
Não tenho dúvidas que o Óscar de Melhor Argumento Original deva caber a Dustin Lance Black. Em nenhuma altura do filme encontramos filosofias baratas ou momentos enfadonhos. Tudo no argumento é interessante e entusiasmante. A realização de Gus Van Sant, por sua vez é brilhante, optando pelo registo documental e experimental, com uso de película que transmite o efeito antigo, tal como a utilização de imagens reais da vida de Harvey Milk e dos seus companheiros e oponentes. Até os próprios figurinos e cenários estão perfeitos, tendo o realizador optado por rodar o filme nos ambientes verdadeiros, numa recriação perfeita da loja que possuía na Rua Castro.
Nomeado para oito Óscares, Milk é uma das mais fortíssimas biopic já visionadas. Cada minuto da película vale a pena, nem que seja por ter aberto caminho não só para os direitos gay, mas para os Direitos Humanos. Harvey Milk disse que chegou aos quarenta anos e que ainda não tinha feito nada de útil. Os restantes anos até à sua vitória e morte foram servidos para colmatar essa lacuna. Pena que não tenha chegado aos 50, como infelizmente havia previsto. Mas nada disto lhe tira o mérito de ser uma figura incontornável do século XX.
Etiquetas: Crítica Cinematográfica
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