Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
1 Comentário(s) Pisado por Tiago Ramos em quarta-feira, 29 de outubro de 2008 às 22:39.Influenciado pela recente adaptação do romance Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, ao cinema e de toda a polémica que surgiu em seu redor, resolvi finalmente ler o mesmo. E se um dia as pessoas começassem a cegar? É a pergunta que o Nobel da Literatura nos coloca e o romance gira em torno desse mote.
Ensaio sobre a Cegueira será, a par de Intermitências da Morte, dos melhores livros de Saramago que já li. Saramago aborda o tema da cegueira de uma forma metafórica, conseguindo traduzir os sentimentos das personagens de uma forma muito verdadeira e real. O livro chega a ser agonizante, cruel, chocante e sufocantes, de tão intensos que são os relatos. Os ambientes são antagónicos à cegueira que é descrita no livro: soturnos, negros, decadentes e tristes, enquanto que esta cegueira não é comum, física ou literal. O mal-branco, como lhe chama o autor é, acima de tudo, o mal da alma, a cegueira do espírito e daqueles que vêem.
O relato de Saramago acaba por incendiar a nossa mente, revoltando o nosso pensamento com quadros mentais de tudo o que se passa naquele país imaginário. É incrível apercebermo-nos como todas as estruturas sociais que conhecemos actualmente, deixam de existir e/ou de fazer sentido, como o pânico e o temor se instalam, como revela os instintos mais escondidos dos humanos, levando-os a agir quase como animais. Contudo, por uma razão absolutamente inexplicável e da qual também não se quer explicação, "a mulher do médico" não cegou e acaba por se tornar uma guia de todo o grupo: física e moral. Podemos comparar esta a outra personagem também imaginada por Saramago, desta vez O Memorial do Convento: Blimunda Sete-Luas. Ambas vêem aquilo que os outros não vêem, ambas são capazes de discernir o âmago humano e acima de tudo, ambas encontram-se num dilema: estarão abençoadas ou amaldiçoadas pela visão?
O livro é de tal forma envolvente que passamos as linhas a evitar pestanejar, não vamos nós ficar cegos ou simplesmente perder a noção do que vemos. Ensaio sobre a Cegueira é, acima de tudo, um livro sobre o egoísmo humano e sobre aqueles que mesmo vendo, não vêem.
Etiquetas: Crítica Literária
Oie, adorei o seu texto, e gosteria de saber se poderia usa-lo no meu trabalho sobre critica literaria?