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O Estranho Caso de Benjamin Button

"Nasci sob circunstâncias pouco usuais". Este é o mote para a história de Benjamin Button, um homem que nasce com cerca de 80 anos e, à medida que os anos vão passando, começa a rejuvenescer. O Estranho Caso de Benjamin Button é tão pormenorizado, que tenho medo de não conseguir comentá-lo à altura.

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O filme, adaptação de um clássico da década de 20, escrito por F. Scott Fitzgerald, é realizado por David Fincher: realizador que já nos habituou a grandes filmes como Fight Club, Se7en, Zodiac ou Panic Room. O Estranho Caso de Benjamin Button destaca-se desde já pelo burburinho que se gerou devido à temática curiosa do mesmo e foi num espírito de grande curiosidade que o vi avidamente.

O filme brilha desde logo pelos ambientes cénicos e pela caracterização. Se à partida parecia demasiado fantasioso imaginar algo semelhante, a verdade é que somos levados a acreditar que rejuvenescer, em vez de envelhecer, é verosímil. O processo de caracterização do actor Brad Pitt é pormenorizado e completo, salvo alguns erros menores. A história é contada a partir de Nova Orleães, no fim da I Guerra Mundial em 1918, passando pela II Guerra Mundial, Guerra Fria, até ao século XXI. David Fincher consegue realizar essa tarefa que, à partida, nos parecia megalómana, sendo fiel aos factos históricos, incluindo cenários, trajes, comportamentos...

O trabalho do realizador é intemporal, arriscando tornar-se um grande clássico da história do cinema. A construção do filme e do argumento de Eric Roth e Robin Swicord é feita de forma a que o mesmo se assemelhe a uma biografia, narrada pelo próprio, desde o nascimento até à morte. O interessante é que apesar de ser o filme mais completo que vi até ao momento e apesar das fascinantes personagens, histórias e acontecimentos paralelos, tudo se complementa e destaca o personagem principal.

O Estranho Caso de Benjamin Button é o mais bonito romance que já alguma vez vi. Eu confesso que bem tentei encontrar erros crassos, algo que deitasse por terra todo o destaque dado ao filme, mas não consegui. Está lá tudo e muito bem feito. Desde os cenários e caracterização (já mencionados), bem como a banda sonora, as interpretações, direcção artística e fotografia.

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Os destaques vão, claro está, também para as interpretações. Todo o elenco é sublime. Brad Pitt tem aqui uma grande interpretação. Não é a interpretação masculina do ano, é verdade, mas não conseguia imaginar outro actor para desempenhar tal papel. Por sua vez, Cate Blanchett, que considero uma das actrizes mais completas da actualidade, tem uma interpretação que a início me parecia duvidosa, mas que a meio do argumento, revela toda a energia, dramatismo e plasticidade necessárias para interpretar o papel de Daisy.

Ao plano das interpretações secundárias, surge o brilhantismo de Taraji P. Henson. Queenie é a mãe adoptiva de Benjamin Button, se assim lhe quisermos chamar e que tem uma grande importância no argumento, à qual Taraji conseguiu imprimir todas as qualidades desejáveis. Por outro lado, a surpresa cai também em Tilda Swinton, vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária em 2007, por Michael Clayton. O papel desempenhado pela actriz é portentoso, de uma mulher surpreendentemente interessante e que suportaria, por si, um único argumento a si dedicado. Uma nota também para Julia Ormond, cuja presença por si só já é de elogiar.

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O Estranho Caso de Benjamin Button colmatou aquilo que já não se via há muitos anos na indústria do cinema. É um Filme, com maiúscula, completo e em pleno. De realçar, os diálogos majestosos e profundos, a subtileza das interpretações, a ironia e comédia subjacente em algumas cenas e que fazem lembrar, por momentos, Forrest Gump. Com uma diferença: Benjamin Button é ainda mais profundo e apesar de todas as épocas que passam pelo filme, a personagem não é deslocada, mas surge sempre em primeiro plano.

O único ponto que em princípio poderíamos negativizar seria a duração do filme, afinal são quase três horas de acontecimentos, histórias e épocas, que quase nos impedem de respirar, com medo de perdermos algum pormenor importante. Contudo, nem isso se torna negativo. Compreende-se logo que a duração assim o é porque não havia outra forma de o fazer sem diminuir a qualidade do argumento.

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O Estranho Caso de Benjamin Button vale, nem que seja só pela curiosidade, uma ida ao cinema e é "aquele" filme que ninguém pode descurar em ver. Já não podemos cair em ilusões e esperar a atribuição dos Óscares deste ano para prestigiar o filme de David Fincher, ainda para mais depois desta cerimónia dos Globos de Ouro. Não fosse este ano um dos mais fortes dos últimos em termos de películas, o filme provavelmente seria um dos mais galardoados, tanto em categorias principais, como em categorias mais técnicas.

Não percam sobretudo as sequências finais, que são de extrema emoção, capazes de levar o espectador mais insensível às lágrimas.

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5 Comentário(s) “O Estranho Caso de Benjamin Button”

  1. # Blogger l00ker

    este é daqueles filmes que ficam! Os Óscares...bah...basta recordar que "Os Condenados de Shawshank" teve 7 nomeações e foi para casa de mãos a abanar! Independentemente dos prémios que ganhar ou não, este filme é uma viagem inesquecível  

  2. # Blogger Roberto Simões

    É normal a comparação com FORREST GUMP, Eric Roth foi também o seu argumentista.

    Se os Óscares não consagrarem esta obra, consagra-la-á o tempo, se merecer. Por isso não há razão para angústias =D

    Roberto F. A. Simões
    cineroad.blogspot.com  

  3. # Blogger Maria João

    "É um Filme, com maiúscula, completo e em pleno. De realçar, os diálogos majestosos e profundos, a subtileza das interpretações, a ironia e comédia subjacente em algumas cenas e que fazem lembrar, por momentos, Forrest Gump. (...) afinal são quase três horas de acontecimentos, histórias e épocas, que quase nos impedem de respirar, com medo de perdermos algum pormenor importante."

    Gostei tanto, tanto do filme que nem sei bem como o descrever. Já há muito tempo que não saía do cinema com aquela sensação de "Uau, este vai mesmo para o topo da lista". A tua crítica está à altura - já tens um dom para isto! :P Já pensaste em fazer disto profissão?
    Beijinho  

  4. # Blogger Tiago Ramos

    Maria: Eu adorei realmente o filme e torna-se mais fácil falar sobre ele. Para mim vale 5 em 5...
    Obrigada. Eu bem gostava, mas hoje em dia é difícil alguém ser crítico de cinema e fazer disso a sua vida.
    Beijinho  

  5. # Blogger maria correia

    Vi ontem O Estranho Caso de Benjamin Button.Ainda me encontro sob a influência deste monumento cinematográfico. É as melhores adapatações de obras literárias ao cinema de sempre! «Larger than Life», em tudo, história, argumento adaptado, música, cenários, actores--todos--mas Pitt e Blanchet fazem um par mágico e intemporal como só me lembro de Gable e Leigh em Gone With the Wind...e a sensação ao sair do filme é semelhante: Uau! Pura poesia, pura grandeza, o Maravilhoso Real na tela...dá vontade de agradecer aos deuses! Obrigada!  

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