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Hard Candy

Provocador, perverso e psicótico.

Hard Candy é um filme tecnicamente simples. Os cenários são simplistas, a fotografia é "limpa" e sem grandes artifícios e o elenco é reduzido. Contudo e se olharmos numa perspectiva menos técnica, Hard Candy é mais complexo do que se julga à partida. Aquilo que se poderia ter tornado um mero filme que aborda a temática sensível que dá pelo nome de pedofilia, torna-se num thriller psicótico e provocador.

Comecemos pelo conteúdo. O tema é actual e nunca antes se falou tanto em pedofilia e nos problemas da Internet como agora, mas este prima pela originalidade com que trata do assunto. Longe do cliché "homem perturbado que persegue menina ingénua" (comum nos filmes de Hollywood), Hard Candy aborda a história de um predador sexual pedófilo de 32 anos e a sua “presa”, uma rapariga aparentemente inocente de 14 anos. Contudo, neste filme nada é o que parece e facilmente ocorre uma inversão de papéis fascinante.

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Curioso em Hard Candy é a forma como usa pormenores para, de uma forma simples, captar a atenção do espectador. E a forma como a jovem Hayley se veste é digna de nota. Afinal a personagem é, aparentemente, um Capuchinho Vermelho contemporâneo e isso pode iludir o espectador. A meio do filme é-nos passada a ideia: e se o Capuchinho Vermelho comesse o Lobo Mau?

Uma das principais virtudes do filme são as interpretações. Em 2005, Ellen Page e Patrick Wilson eram praticamente desconhecidos do grande público, mas já aqui se notaram as qualidades em ambos os actores. Ellen Page surge como uma das jovem mais promissoras da actualidade, sem grandes tiques de vedeta, uma actriz segura e praticamente irrepreensível, comparável a Natalie Portman. Por sua vez, Patrick Wilson interpreta um papel difícil, mas acaba por conseguir dar-lhe a volta com grande mestria, sem grandes dificuldades. E Hard Candy revelou essas facetas dos actores precisamente antes da constatação dos factos em Juno e Little Children, respectivamente.

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Hard Candy apresenta um jogo psicológico perverso, de inversão de papéis, onde nem tudo é o que parece. O filme vive dessa mesma ilusão e somos constantemente assaltados por dúvidas. A questão que se impõe é que David Slade não consegue manter a genialidade do início ao fim do filme. Se bem que inicialmente, a escolha da posição das câmaras conduz o espectador para o jogo psicótico, a meio do filme acaba por conduzir a alguma desilusão. Outro erro em que caiu o realizador foi o de, relegar a ideia de uma jovem inteligente e perversa, para a ideia de uma justiceira ou vingadora, que acaba por se revelar doentia.

O thriller apresenta um grande argumento original, mas é prejudicado por um final mais precipitado e em suspenso, que acaba por deixar o espectador algo desiludido. Contudo, é dos melhores dos últimos anos, tendo diálogos soberbos e acima de tudo, inteligentes. Hard Candy é um filme perturbador e a genialidade com que o faz é perfeita.

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Digno de nota, Hard Candy poderia tornar-se um clássico contemporâneo, se bem que a enorme produção de longas-metragens hoje em dia, pode adiar esse "rótulo". A memorizar também o fantástico poster do filme, que longe dos actuais posters de filmes americanos, sugestiona de uma forma inteligente o próprio espectador.

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