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As Horas

Um argumento potencialmente interessante, com um elenco de luxo, onde alguns são sobrevalorizados.

Estreado entre nós há cinco anos atrás, The Hours (As Horas) mereceu novo visionamento. Afinal, é por vezes, fora dos focos ou das polémicas que alguns filmes atingem o seu esplendor, quer seja por nos ser permitida uma reflexão maior ou por, simplesmente, nós próprios espectadores termos evoluído em personalidade e gostos.

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As Horas é baseado num romance de Michael Cunningham com título homónimo e conta a história da escritora Virginia Woolf quando se encontra numa luta constante com o seu interior, ao escrever o seu primeiro grande romance. Esse romance vai inflenciar de alguma forma a vida de outras duas mulheres, uma dos anos 50, Laura Brown, que estando a passar por uma fase depressiva, lê o romance "Mrs. Dalloway" e considera-o tão revelador, que acaba por ponderar efectuar uma mudança devastadora na sua vida. Na actualidade, surge Clarissa Vaughan, a versão contemporânea da Mrs. Dalloway romanceada.

O filme acaba por nos iludir enquanto espectadores, afinal ele foi escrito, realizado e produzido cuidadosamente, de forma a agradecer uma audiência exigente de cinéfilos e de júris sedentos de argumentos sérios e respeitáveis. E se considerarmos isso dessa forma, o filme acaba por corresponder às expectativas. Contudo, se distanciarmos essa visão "oscarizada", se assim me permitem, o caso muda de figura.

O filme é, ao mesmo tempo, um filme de época e um filme moderno. É o passado que acaba por dominar a narrativa, com o tempo presente a funcionar como um epílogo de todo o argumento. E isso, por vezes, resulta numa série de cenas absolutamente dispensáveis e até enfadonhas. As Horas apresenta-se mais complexo, do que talvez o seja na realidade, surgindo em produto cinematográfico criado para ser intelectualmente estimulante, mas que não o consegue.

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Afinal o filme acaba por ser uma mini-biografia de Virginia Woolf, especulando os motivos que a levaram a escrever "Mrs. Dalloway" e o que a conduziu ao suicídio? Procura, de certa forma, explorar a homossexualidade feminina em diferentes épocas? Aborda o desgaste que se cria durante a escrita de um livro ou procura mostrar que por detrás do indivíduo escritor encontra-se uma pessoa assolada por fantasmas interiores? No final de contas, acaba por se perceber que a narrativa entrecruzada de três histórias não foi feita para mais do que simplesmente surpreender razoavelmente o espectador, tornando-se em três pequenos argumentos em vez de todo um argumento lato?

Não sendo propriamente um filme de grande culto, o seu visionamento deve ser visto nem que seja, pelo menos, pela interpretação de três grandes divas de Hollywood: Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Nicole Kidman ganhou o seu único Óscar de Melhor Actriz acima de tudo pela caracterização que foi necessária para a interpretação de Virginia Woolf, ao ponto de a deixar irreconhecível.

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Contudo, é Julianne Moore que detém a melhor personagem e a que melhor trabalhou nesse sentido. Moore tem uma interpretação surpreendentemente boa, no papel de uma dona de casa depressiva e que poderia, contudo, ter caído nos clichés comuns. Felizmente, tal não aconteceu; valeu-nos a qualidade de uma actriz que, lamentavelmente, não recebeu o galardão da Academia, que lhe seria tremendamente justo.

Meryl Streep interpreta uma personagem que poderia ser interessante, mas que acaba por morrer demasiado em importância, devido ao argumento.

As Horas é um filme surpreendentemente bom em termos técnicos, mas que ao invés de nos trazer algo de notável, conforme se anunciou, terminou por nos apresentar uma revisitação de filmes do género.

“Dear Leonard, to look life in the face … always to look life in the face, and to know it for what it is. At last, to know it, to love it for what it is, and then … to put it away. Leonard … always the years between us, always the years … always … the love … always … the hours.

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